Cansado dos estereótipos racistas no cinema, Melvin Van Peebles dedicou a vida a provar que é possível produzir filmes feitos por e para a comunidade afroamericana, ainda que tivesse de o fazer pelas próprias mãos. Sem recursos ou experiência, começou a realizar curtas-metragens em São Francisco ainda nos anos 60, mas só em Paris conseguiu financiamento para a sua primeira longa-metragem, La permission (1968). Seria o início de um cinema em que a comunidade negra reclamava o poder de se representar, olhando-se na profundidade do espelho com as suas dúvidas e anseios.

Após um turbulento encontro com Hollywood, onde realizou Watermelon Man (1970) para os estúdios Columbia, regressou à margem da indústria, impelido pela necessidade de continuar a criar. Munido de vários talentos, escreveu, financiou, produziu, realizou e compôs a música de Sweet Sweetback’s Baadasssss Song (1971), onde também interpretou um herói assertivo, sexual, violento e que, surpreendentemente, não morre às mãos da polícia. O filme tornou-se num gigante êxito de bilheteira, consagrando Van Peebles como um dos maiores artistas-produtores do cinema independente americano.

Com um estilo vibrante, de gatilho rápido na montagem e carregado de groove, Van Peebles viria a ter uma enorme influência na génese do Blaxploitation e em várias gerações de cineastas. O Batalha apresenta a primeira retrospetiva em Portugal dedicada ao realizador e artista — durante anos esquecido por um certo cânone da história do cinema —, com uma seleção dos seus filmes e um documentário, cujo argumento escreveu.