The Last Angel of History, John Akomfrah
Lolo Arziki
15 de Dezembro de 2022

Um belo documentário criativo onde o som e as imagens dialogam sob uma estética afrofuturista; onde o afrofuturismo é o elo de comunicação entre a Diáspora africana e sua ancestralidade através da tecnologia.

O afrofuturismo pode surgir tanto como uma realidade ficcionada para corpos negros deslocados e que por questões de opressão colonial e pós-colonial não tem vivências do continente africano e também pode ser associada à realidade pelos africanos dada a forma como a tecnologia se desenvolve e é vivida nesse contexto.

A estética é ficcionada quando entra no campo da media digital e das artes visuais, pois as práticas são transportadas para a teoria e ciência.

Este filme é uma realização e produção britânica, que aborda o afrofuturismo na diáspora negra no contexto da ficção científica e realidade digital. O filme pretende resgatar a tecnologia como elemento da comunicação nas sociedades africanas, reflete sobre como artistas negros da diáspora usam a Cybercultura como statement e parte de uma descolonização do conhecimento; e eu diria que, para desconstruir preconceitos que esses corpos são desprovidos da inteligência e capacidade de usar a ciência e a tecnologia.

Há uma frase que é dita no filme que me chama bastante atenção que diz ”África um continente perdido no passado e alien do futuro”, esta frase poderia trazer mil e uma reflexões, mas vou focar naquilo que também é proposto pelo afrofuturismo, que é permitir nos pensar corpos negros no futuro.

Pessoas negras estão constantemente a ser apagadas do futuro, quando são embranquecidas ou quando são negligenciadas e entregues à morte. Embranquecidas no sentido em que a maioria das pessoas negras que tiveram grandes feitos na história são apagadas, silenciadas e são substituídas por pessoas brancas ou com características próximas de pessoas brancas. O próprio filme The Last Angel of History dá exemplo de astronautas negros que foram apagados da história, em nenhuma notícia sobre o espaço, as viagens à lua, ouvimos, lemos ou vemos referências a esses astronautas, a história, os media, não têm interesse em dar enfase às conquistas de pessoas negras sobretudo no campo científico. Além da ciência, também na indústria das artes, vários outros autores abordam essa questão do apagamento e do embranquecimento. E no que é que isso impacta as nossas vidas? Não nos acostumamos a ver pessoas negras no futuro, é como se o futuro não fosse acessível para esses corpos, no futuro idealizado por este sistema racista nós continuamos a desempenhar papéis secundários e terciários. Na mentalidade racista e colonial, pessoas negras só existem como servos de pessoas brancas.

O filme reivindica e documenta sonoridades que vão além do tempo, da diáspora africana ao resto do mundo e demarca feitos de pessoas negras na história da música, ciência e tecnologia. Artistas, criadores e pensadores negres estão comprometides com a ficção científica desde as suas raízes até as suas criações mais contemporâneas. No audiovisual: do "Thriller" do Michael Jackson até à Cybercultura dos videoclipes da nova geração do pop. No cinema: da utopia do Touki Bouki de Djibril Diop à quimera de Atlantique de Mati Diop; na literatura, de Audre Lorde a escritores da minha geração; na música, das sonoridades do ferrinho de Cabo Verde até ao som da revolução tecnológica presente no Funk e na música electrónica deste filme. A meta narrativa deste filme que traz tantas referências de criadores e críticos negros leva-nos a concluir que o afrofuturo é presente, as pessoas negras com todas as suas complexidades estão no futuro tanto quanto fazem parte deste presente.

Lolo Arziki

Cineasta formada em Vídeo e Cinema Documental e com um mestrado em Estética e Estudos Artísticos, Lolo Arkizi realizou, até à data, uma curta-metragem documental, Homestay (2017), premiada em dois festivais, em Portugal e em Cabo Verde, e três vídeo-performances, exibidas em galerias de arte na Europa e no Brasil. Recentemente, após ter denunciado que dois dos seus projetos fílmicos foram alvo de censura em Cabo Verde, Arziki distanciou-se da realização, dando continuidade à sua prática de programação e curadoria em festivais e mostras internacionais de cinema.

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